23 fevereiro 2006

Lupi, conta outra!

Já estava à horas para escrever sobre esse assunto porem nunca dediquei meu tempo a isso, mas como hoje num programa de radio, ouvi mais uma vez a questão Lupiscinio, resolvi que era chegada a hora, e a questão é sobre o porque de Lupi sendo negro, torcia para o Grêmio, e mais uma vez foi dada a versão de Lupi de que o Riograndense, “time dos negrinhos”, como Lupi definia, (time do pai do Lupi), teria uma vez pedido para fazer parte de uma liga ou campeonato, e o Internacional (o time da negrada a partir dos anos 20) é que teria sido contra, daí em diante o pai e Lupi teriam começado a torcer para o Grêmio.Bom! Imagine que você esta passeando pela rua e dois assaltantes, cada um com um 38 na mão te pedem a carteira, mas como um antes de chamou de FDP tu resolve então como vingança dar a carteira ao outro, ou, uma mulher é atacada por dois tarados, mas como um a chamou de ‘vagabunda’, ela então resolve ‘se entregar’ para o outro, ou ainda, existem dois racistas, um te chama de negro mas o outro te chama de negro safado, e como tu ficou ofendido pelo ‘safado’ tu resolve que o outro racista é melhor”!?! Realmente foi muito interessante, essa escolha de Lupi, entre o racista assumido e o racista arrependido....Essa explicação do Lupi, pode ser até verdadeira, mas que ela é bem frágil isso é! pois o cerne da questão não esta em o Sr. Lupi haver escolhido um clube que era racista estatutariamente, a questão que me prendo é a causa, a do Riograndense, clube do pai do Lupi, que o próprio Lupi definiu como ‘time de negrinhos!”. Uma vez fazendo pesquisa carnavalesca (para quem não sabe escrevi um livro chamado “Fragmentos Históricos do Carnaval de Porto Alegre”), numa dessas entrevistas conheci os irmãos Jaime e Carlos Moreira, importantes para essa festividade por serem fundadores de uma agremiação carnavalesca chamada “Aí Vem a Marinha!”. E como o carnaval é uma festividade muito ligada ao futebol, pois algumas entidades surgiram de clubes de futebol, quando começamos a falar sobre Lupi como compositor, veio a tona o time de seu pai, o ‘Riograndense’, e eu resolvi entrar um pouco no assunto. Eu já tinha lido o excelente trabalho de Gilmar Mascarenhas de Jesus “ESPORTE E MITO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL: MEMÓRIAS DE UM APARTHEID NO FUTEBOL“ (http://www.efdeportes.com/) que dizia em certa parte ... “Interessante registrar que o Sr. Francisco Rodrigues (pai do famoso compositor Lupicínio Rodrigues) dirigia o Rio Grandense, clube que gerou polêmica no interior da liga por definir-se como "mulato". A liga a que o Sr. Gilmar se refere é a Liga da Canela-Preta, surgida pela zona da Colônia Africana pelos anos de 1910 e 1920.Evidente que questionei o Sr. Carlos e o Sr. Jaime sobre isso e para minha surpresa o Sr. Carlos que era mais envolvido com futebol, pois jogava no time do “Aí Vem a Marinha” nos campos de futebol que ficavam onde hoje é o Hospital de Clinicas (existiam 3 segundo ele), que realmente o Riograndense não era um clube de negros, como afirmam vários repetidores das justificaria de Lupiscinio, mas sim um clube de mulatos. Segundo o Sr Carlos, o Riograndense tinha as cores vermelho e preto, e não tinha os chamados ‘negros-pretos’ em seus quadros, alias era tão mulato que nem na torcida os negros eram aceitos, somente os mais clarinhos poderiam participar e torcer pelo clube, e acrescentou que eram ‘metidos’ pois quando ganhavam algum torneio, faziam carreata pela cidade, como os grandes faziam,Todos nós sabemos que lá pelos anos 20 as tentativas do negro de se socializar com a classe dominante passavam até pela aceitação de um pó-de-arroz, e até de usar uma vantagem que na época alguns tinham de ter a pele menos negra, pois a aceitação pela sociedade dominante branca desses era mais fácil. A opção de Lupi, em ser torcedor de uma agremiação que era notadamente racista em detrimento de outra que mesmo posteriormente tenha aceito negros em seus quadros tem, como se diz popularmente, mais coisa por baixo dos panos, ou dente de coelho. Infelizmente nunca saberemos o porque dessa opção de Lupi, se foi uma influencia do pai, se foi um agrado aos amigos, ou seja lá o que for... o certo é que até hoje não se entende muito bem porque o rei da dor-de-cotovelo tão bem transformada em musica, fez essa opção.Enfim só nos resta estranhar a opção de porque uma pessoa que pertencia a um time de mulatos aasumidos e que não aceitavam negros em seus quadros e nem na torcida ficou tão ofendido por um clube de brancos o ter enquadrado na categoria de “negros”.